domingo, 4 de abril de 2010




Anjo trincado



Fui aquele anjo que alguém esqueceu em um canto qualquer

Meu olhar era triste

Com olheiras

E marcas no rosto.

Meus cabelos perderam o viço natural

Desgrenhados

Oscilavam ao vento

e às dores da vida.

Minhas costas

Curvaram-se pelas agonias.

Fui um anjo cansado

desvalido

solitário.

Fui um anjo que amou

que desvirtuou-se

pelos caminhos do desamor

e prometeu nunca mais amar

nunca mais ser magoado

aviltado

machucado

quebrado em mil pedaços.

Hoje continuo um anjo

decidi que o amor

pode ser trocado pela paixão

pelos desejos

expostos sem pudores

exagerados

reais

consistentes.

Amor sem desejo

é como água estagnada

como vida sem sonhos

carinho sem beijo

sem abraço

sem afago.

Meus olhos agora brilham

diante da vida

e do que me dá prazer.

Minhas costas ergueram-se

impávidas.

Meus cabelos tingiram-se de vermelho

Sou um anjo

vermelho

latente

intenso

feliz

completo

inteiro.

As marcas do rosto permanecem

mas tem outra leitura

são marcas do que fui

marcas da sobrevivência.

Hoje sou um anjo inteiro

reconstruído.

Permito que minha loucura

assuma seu lugar.

Sou um anjo

Que não sabe rezar

mas que sabe zelar

e se permite perder-se em paixões

em doces prazeres mundanos e reais!