sábado, 20 de outubro de 2007

Resgate

Essa semana reencontrei-me com Pablo Neruda, através de um amigo que postou uma poesia dele e depois pela minha filha que me conseguiu mais alguma delas. E foi um delicioso reencontro. Me trouxe a lembrança de uma amiga muito especial que era fissurada no Neruda. Lia frenéticamente todas as obras dele, sem nenhuma restrição. Vasculhava bibliotecas atrás de algo dele, que não tinha. Ficava horas a fio copiando as poesias dele sem esmorecer. Confesso, que achava aquilo meio nerd, meio maluco, e nunca quis me aproximar de Neruda como deveria. Lastimo isso agora. Acho que perdi uma grande chance de me tornar mais antenada para o bom, o belo. Mas não me sentia a altura dele, me parecia fora do meu alcance. No entanto achava extremamente atraente aquela relação que minha amiga tinha. Era uma grande amiga, parceira, completamente despirocada, mas despojada de qualquer coisa que lhe fizesse parecer intelectual demais, apesar de sua paixão por Neruda. Saíamos muito juntas. Ela louca e irreverente, eu tímida e desjeitada. Éramos os opostos que se atraiam. Tinha paciência comigo. E de um jeito muito peculiar, me ensinou muita coisa. Me colocou na vida! Nunca me senti em desigualdade com ela. Me sentia protegida, e muito estimada. Era mais do que uma irmã mais velha. Me colocava debaixo das suas asas e me ensinava a voar. E como voei! Fui longe, sempre com a supervisão carinhosa dela. Muito do que eu sou hoje, devo a ela.A minha alegria, minha coragem, minha sede de viver, meu lado dispretensioso, minha tímida irreverência, meu lado impulsivo, que me faz bem e também minha força para enfrentar as coisas difíceis da vida. Sempre de cabeça erguida e sempre vendo uma luz no fundo do túnel. Queria reencontra-la agora pra que ela visse o resultado do que aprendi com ela. Mas por uma dessas adversidades da vida, perdemos o contato. Mas acredito que seria uma festa! E devo a ela também agora o meu reencontro com Neruda. E se a reencontrasse iria lhe dizer que agora entendo a paixão dela por ele. Obrigado Neruda por fazer me lembrar de uma amiga. Estou em dívida eternamente!




"É proibido ter medo da vida e de seus compromissos
não viver cada dia como se fosse o último suspiro." Pablo Neruda