quarta-feira, 7 de janeiro de 2009







Reminiscências

Hoje acordei, e em meus olhos desfilaram minha infância. Deixe-me levar pelas lembranças, e me senti voltando à casa onde cresci, e onde descobri segredos, que estavam cuidadosamente guardados por minha mãe em um baú de vime, velho e empoeirado que ficava no porão, onde eu me escondia para fugir das surras de minha mãe. E conscientemente, eu chegava a conclusão que minhas fugas, me rendiam algo interessante. Assim, minhas visitas ao porão se tornaram freqüentes, mesmo quando não se faziam necessárias.


Neste porão, onde entrava sorrateira e abaixadinha (o teto era baixíssimo) começou a minha descoberta do proibido, do que era quase inatingível, digo quase, porque, em pouco tempo minhas leituras passaram a ser íntimas e prazerosas. E também ficou acessível minha ida lá. Como minha mãe não permitia visitar minhas amiguinhas nem mesmo a visita das mesmas. O motivo de minhas idas ao porão, eram por estar chateada ou emburrada com suas proibições.

O lugar tornou-se meu santuário, e as revistas Grande Hotel, o meu maior enlevo. Eram grandes e quase todas desenhadas em preto e branco, inclusive as fotonovelas. Eu as lia ansiosa, embevecida e com uma certa sensação de perigo, o que tornava é claro, mais atraente e fascinante a leitura.

As histórias tinham uma seqüência a cada revista, e baseada na numeração, estava o desenrolar das histórias. Frenética, procurava a seqüência, e quando não as achava (talvez tivessem sido perdidas ou não foi possível compra-las), ficava numa frustração imensa, mas a leitura da próxima compensava este sentimento.

Um tempo depois, passei a recortar de outras revistas, todo tipo de figura humana. As espalhava pelo chão e fazia minha fotonovela particular com direito a beijo e tudo mais. Permanecia ali horas intermináveis, e sempre fui tímida e de falar muito pouco. O oposto do que sou agora. Em seguida comecei a desenhar as histórias. A partir daí desenvolvi meu interesse e fascínio em desenhar figuras humanas. Nessa época eu teria, uns dez a doze anos de idade.
E relembrando isto, senti um desejo imenso de ter novamente um porão, para me isolar e desenhar tranqüilamente, sem é claro o estigma do proibido.