quarta-feira, 29 de abril de 2009


Desejo

Com os olhos no desejo


Seu sangue fervilhava, quando a aventura e o inusitado cruzavam sua vida. Por mais advertências que seu lado sensato lhe enviasse, ela propositadamente as ignorava. Assim aconteceu quando surgiu a oportunidade de conhecer, se encontrar com aquele homem que ela conhecia só virtualmente. Isso ao contrário do sensato aguçava mais seu lado aventureiro, a instigava a ver como seria o real, o cara a cara, ou melhor, o pele a pele. Isso a deixava inquieta e com imagens, onde o sexo virtual passaria a ser um sexo palpável, intenso. Esse pensamento aumentava sua ansiedade, acrescentando, nuances de um prazer lúdico.


O antes, a ansiedade.


A viagem foi a mais longa que já fizera! Durante o tempo todo, vários ensaios do encontro foram se formando em sua cabeça. Escolheu muitos, descartou outros tantos. Foi feliz e perfeito em alguns, em outros se esforçou pra pintar um encontro decepcionante, o que apagou rapidamente, não seria conveniente sofrer por antecedência. Se fosse sofrer, nada a afastaria de tal destino.


O medo


O avião taxiava com cautela, num procedimento habitual. Sua agonia acelerava numa desenfreada corrida para o desespero. Pensou em se esconder, se disfarçar, o que era impossível, já que ambos se conheciam muito bem, através das conversas e das ensandecidas sessões de sexo virtual. Mesmo sendo por uma câmera fria e impessoal, transformando aquele artifício mecânico, num aliado do prazer. Seus detalhes físicos eram inconfundíveis à ambos, até mesmo as expressões faziam parte de uma cumplicidade estreita.



Tateando o real


Desceu a escada do avião, vagarosamente, não porque quisesse, mas porque suas pernas tremiam e não queria demonstrar nenhuma fragilidade. Lá estava ele!Reconheceu de imediato. Alto, o rosto magro, expressivo, os olhos inquisidores, que lhe desnudavam seus segredos, mas denunciavam os dele, numa troca silenciosa.

Quando se acercaram, nada foi dito, talvez as palavras tivessem fugido ou seriam desnecessárias. Se abraçaram no silêncio cúmplice, como num pacto pré estabelecido. Ele tomou sua mão, estava também fria, o que lhe deu um conforto. Não estava só na agonia. Mudos e entrelaçados na ansiedade, seguiram para o motel.


Nem mesmo passou a porta do quarto, sentiu suas mãos desnudando-a. A cada peça tirada um beijo de boas vindas, de reconhecimento. A boca engoliu a sua, num passeio frenético, a língua quente e molhada invadiu seus sentidos, que ela recepcionou, com a sua num abraço íntimo. Seus seios foram acariciados, idolatrados, como ele sempre fazia virtualmente. Passeou seus lábios, desenhou com a língua quente, todos os pedacinhos de seu corpo. Ao chegar ao seu umbigo, estancou, lhe enviou um olhar demente, suspirou alto e desceu. Dando a entender que estava chegando ao paraíso, e era onde ela estava se sentindo. Ousadamente ela segurou seu sexo com força, desceu a mão ao seu próprio e ao senti-lo úmido, pensou: estavam prontos para o embate, mais esperado por ambos.

Seus corpos contribuíam para o prazer real se concretizar. Tudo foi perfeito, sem vencedores ou perdedores. O empate foi o resultado justo e consolidou a cumplicidade, já compactuada há tempos. O cansaço foi a recompensa da ansiedade, o suor uma bandeira do prazer alcançado.

Quando ele ajeitou a cabeça dela em seu ombro, olhou-a com olhos semi-cerrados e sussurrou numa voz arrastada: olá, como vai você? Ela suspirou alto, sorriu e respondeu: estou bem, muito bem! E de fato estava! Existia o amanhã, mas isto não tinha importância agora. Um segredo já tinha sido desvendado. Os outros viriam aos poucos, sem tropeços! Reais e palpáveis.