Aprendendo a perder
Ele era meigo, dócil, serelepe, carinhoso. Quando olhava pra nós parecia falar com os olhos de tão expressivo que era. Era um gato filhote ainda e quando era mais pequenino tinha o hábito peculiar de subir por nossas pernas até se alojar nos ombros. Parecia um papagaio.
Era amarelinho, malhado. Seu nome era “Fiapo”, por que quando nasceu, era tão esquálido, miúdo e fraquinho, que pensávamos que não ia vingar. Ficamos eu e minha filha, dando-lhe mamadeiras e leite em seringas de duas em duas horas, durante dois meses. E então ele se transformou em um esfomeado. Ao tomar meu café pela manhã, vinha e sentava quietinho no meu colo, ronronando, como se insinuasse que estando ali eu poderia dividir meu café com ele!
Tenho outros gatos, cada um com sua característica de personalidade diferente, mas todos amorosos, independentes, mas extremamente carinhosos. O Fiapo se salientou dos outros, por ser muito “coleiro” algo não inerente em um gato.
Esta semana, minha filha chegou à noite da faculdade e encontrou-o morto. Seu corpinho frágil, estirado em frente de nosso portão. Talvez atropelado, o mais provável. Minha filha ficou desesperada e dizia chorando: logo o Fiapo!
Peguei-o e o trouxe pra dentro de casa, sentei-me e fiquei com ele no colo, por um tempo, pensando em como somos frágeis e como nos oferecemos à dor, a perda, quando nos ligamos á alguém, mesmo sendo um animalzinho.
Mas faz parte da vida, essa parceria com a vulnerabilidade, que nos coloca sempre a mercê das dores e das perdas. Não há nada a fazer a não ser conviver com isso.
Já perdi muito dos meus bichos e esperava estar acostumada a essas perdas e não sofrer tanto, mas me enganei, com a dor nunca nos acostumamos, ela sempre nos pega despreparada e custamos a esquecer. Mas aprendi que mesmo essa dor nos machucando tanto, o tempo de convivência prazerosa, e com muitos ganhos, preenche a lacuna que fica quando eles se vão.
Assim é a vida, um aprendizado até mesmo nas nossas perdas!
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