Tinha decidido, não abordar, esse assunto, por ele ter sido tão bem explanado em outros blogs. Mas infelizmente, o que hoje presenciei, fez-me mudar minha decisão.
Inimigo Oculto
“Pior inimigo, é o invisível: aquele que ataca, bate e não podemos revidar!”
Todas as quintas faço um estudo, um laboratório de desenho, com modelos vivos. Os modelos trocam a cada mês. O atual, é um homem negro, jovem. Abrindo um parêntese: um "Deus Ébano, diga-se de passagem.
Hoje é a segunda aula que ele não comparece. Então enquanto esperava, uma possível troca de modelos, fiquei passeando pela sala e olhando os desenhos alheios. Todos tendo ele como modelo.
Algo me chamou a atenção: os desenhos, de duas mulheres, que ostentavam os mesmos, aos colegas:
nos dois, o corpo era o dele, mas o rosto, não; era de um homem branco, nitidamente caucasiano. O racismo mistificado, disfarçado, oculto, mas preconceito! Silencioso!
O desenho que fiz dele, e está incluído nos que vão para minha exposição, não tem rosto, por ser uma característica nos meus trabalhos. Mas percebe-se que é um negro, na sua cor, exuberância e vitalidade.
Logo em seguida, nos comentários, ocorridos, sobre a ausência do modelo, o racismo, mais uma vez manifestou-se, rasteiro e covarde. Como uma erva daninha!
Materializou-se na forma de uma senhora, assumidamente homossexual, o que me deixou perplexa.
Com um escárnio latente ela disse: “negrinho sem-vergonha!”.
O racismo é tão forte, que provavelmente, a discriminação, que, ela sofre, conclui ser diferente da discriminação da cor. Tudo enraizado dentro da sua superioridade, calcada, na prepotência de considerarem-se a “raça pura”.
Tomadas, as devidas providências, surgiu um modelo substituto.
Um negro, que se postou num tablado, no centro da sala, estático e exposto como um objeto.
Um modelo branco também ficaria na mesma situação, mas devido às circunstâncias, para mim, desenhou-se um quadro diferente.
Constatei, talvez, com um certo pessimismo: escravo?
Retirei-me! Muito racismo para um dia só!
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