quinta-feira, 19 de março de 2009



BB
Beti babysitter


Recuperava-me a passos lentos, mas firmes, de uma Síndrome do Pânico, que me acompanhou por um longo ano. Minhas saídas à rua eram tímidas, devido ao medo de ser acometida por crises inesperadas. Mesmo esparsas às vezes ocorriam. Minha filha me chamava de “paniqueira” carinhosamente e isso amenizava um pouco minhas ansiedades.
Em uma dessas incursões, fui a uma maternidade, visitar uma grande amiga, cujo filho tinha nascido. O nenê, um menininho lindinho, agraciado com uma abundante cabeleira, com sobrancelhas, incrivelmente cerradas pra um bebezinho, o que chamava muito a atenção.
Durante minha visita, ele mostrou-me o quanto seria esperto, ao dar um jato de xixi, no pai que o trocava. Passado algum tempo, minha amiga fez-me a inusitada proposta para cuidar do Gui (Guilherme). Titubiei, por estar há tanto tempo sem ter um contato direto com um nenê (minha filha na época tinha dezenove anos) e recém saída de uma enfermidade que muito me abalou. Minha amiga contrapôs, argumentando, que ser mãe é instintivo, nunca se esquece.
Pensei que ela não estava em suas faculdades mentais perfeitas (fato esse nada impossível em se tratando de uma mulher extrovertida e dinâmica, mas um tanto que impulsiva, assim como eu), mas acabei aceitando.

E o primeiro dia chegou! Dadas as devidas instruções, ela simplesmente escafedeu-se! E ali fiquei, eu e o Gui, sózinhos e desamparados, por uma mãe desnaturada, mas que com certeza, confiava em mim. Olhei-o, tão pequenino, indefeso, mas quando percebi os olhinhos dele me observando, desconfiei que ele não era tão indefeso como aparentava. Intimidei-me e pensei: isso não vai dar certo! Mas deu! Com o passar do tempo, fomos nos adaptando um ao outro e nasceu um forte elo. Passamos a ser inseparáveis, e sua presença tornou-se parte de mim. Lu, só ligava uma fez ao dia, para saber como tudo estava, não mais que isso, me passando então confiança. Deu-me também a liberdade de sair com ele onde quisesse, e saíamos muito, à todos os lugares, tanto que ele aprendeu a andar de ônibus comigo, já que andava só de carro com os pais. Éramos uma dupla e tanto!Na idade de três anos, quando eu chegava pela manhã a casa dele, estava acordado, mas deitado na cama da mãe, batia no espaço ao seu lado e dizia: deita Beti! Como era inverno me aconchegava ao seu lado e dormíamos, com ele sempre cuidando, me espiando, para ver se eu estava realmente dormindo. A Lu chegava na hora do almoço e ria muito, ao nos ver deitados, cobertos e vendo tv. Quando tinha sol, sentávamos na escada do condomínio, ele ao meu lado, como um homenzinho, ao lado de sua amiga e parceira. Guardo com carinho essa imagem que me emocionava muito. Quando perdia minha lente de contato,( coisa corriqueira) ele sabiamente me acalmava e passava a procurar a lente, achando-a e me entregando com o maior cuidado.

Eu e o meu adorado Gui


Tudo sempre transcorria tranqüilo, a não ser quando o irmão mais velho, de sete anos, ficava conosco, aí tudo se complicava, devido as traquinagens criativas dele. Brigava com ele, mas após as brigas ele me amolecia o coração quando perguntava se eu ainda o amava.
Hoje já está um adolescente grandão e bonito. Mas lembro-me do meu desespero quando fui pegá-lo no colégio e na volta, subindo no ônibus com o Gui, no colo, constatei que ele havia permanecido na parada, me forçando a gritar e descer do veículo como uma louca.

Um dia, a Lu me deu a triste notícia que o Gui precisava, iniciar em uma creche, para ir se adaptando à escola. Fui junto para conhecer a escolinha e quando a atendente me pediu informações sobre os hábitos dele, pus-me a chorar como uma mãe desesperada, com a Lu a rir , com muita insensibilidade. Ela não entendia que meu coração estava despedaçado! Iriam me separar do meu menininho! Os primeiros dias de adaptação na escola foram terríveis. Eu ficava em uma salinha na entrada da escola e o tempo todo ouvia o choro dele, me chamando: Beti! Quero a Beti! Não dando nenhuma alternativa as professoras, a não ser me buscarem para ficar com ele. Quando me via, grudava em mim, quietinho, com vontade de brincar, mas com medo, de eu fosse embora. Meu coração se apertava e doía muito.
Com minha filha, nada disto aconteceu. Talvez por eu ser mais nova e tinha de trabalhar, havendo a necessidade dela ficar em uma creche.

O pior momento, porém foi quando, não precisei mais cuidar dele. Ele tinha quatro anos mais ou menos. Nos primeiros dias longe dele, me sentia sem um pedaço de mim. A saudade era grande e chorava muito. Lembrava daquele aconchego do corpo pequenino, mas forte em sentimentos. Ele fez parte de um período de minha vida importante, um divisor de águas, porque após essa etapa, minha vida tomou um rumo diferente. Senti-me confiante por ter vencido um desafio e perceber que tinha conseguido transmitir segurança à alguém, mesmo sendo uma criança e assim resgatando a minha segurança.

Obrigado Gui pelo seu carinho e amor à mim dado e obrigado Lu por ter depositado em mim tanta confiança.