quarta-feira, 3 de setembro de 2008


O dia seguinte

O que vou narrar aqui faz parte de um pedaço de minha vida, que me deu a essência para ser o que sou até hoje.


Esta semana estive com uma amiga, de adolescência,e também da fase adulta. Vejo-a esporadicamente, porque nossas vidas tomaram rumos opostos, e também quando a revejo, sinto-me triste e deprimida. Tem poucos anos mais que eu, mas perdeu o viço!


Certa vez, me disseram, que eu era viçosa, na ocasião não sabia o significado, fui pesquisar e ao saber, fiquei toda garbosa!


Ela tem marcas latentes, de amargura, tristeza, que se refletem, no seu olhar. O sorriso, não ultrapassa seu rosto. Encolhida, parece que vai se partir em pedaços de infelicidade. Diz-me que é feliz, mas não me convence. Teve um único amor, que perdeu, e que lamenta, até hoje, mesmo que não admita, nem pra si mesmo.


Reconheço, a imagem, da dor, do nunca mais. Já a tive, mas, não permeti, que ficasse permanente.


Ela perdeu a alegria, de viver, apenas sobrevive, arrasta-se na sua tristeza infinita. Vive só pra família, que não se importa como está, porque assim, continuam a sugá-la, tirando-lhe o direito de ser feliz. Já tentei diversas vezes, tirá-la desse estado vegetativo. Mas minha alegria de viver, não a atinge, mas sua infelicidade, a mim sim. Afasto-me, covardemente, porque não quero lhe fazer parceria, neste infortúnio.


Num ato peculiar, decidiu, perder a virgindade, na mesma ocasião que eu, talvez estimulada pela minha coragem, pelo meu desprendimento. Aos vinte e dois anos, eu ainda trazia o estigma de ser virgem, e isso me inquietava, obstruía, meus anseios.


A minha primeira vez, foi como todas , posso dizer razoável! Mas fiquei tão feliz, por me destituir daquele detalhe, que lembro de subir na cama e dançar como uma louca! O cara deve estar ainda fugindo de mim...risos.


A partir daquele momento, me senti uma mulher livre e quase completa. Casei-me, amei muito,tive uma filha, fui feliz. Hoje não tenho um relacionamento. Às vezes estou só, mas minha solidão, tem um sabor de liberdade. Não me arrependo de nada na vida! Luto pelos meus sonhos. Agarro-me a vida, com uma ânsia entorpecedora. Entrego-me ao que desejo, e se sofrer considero só mais uma etapa do meu percurso. A impulsividade é minha parceira, e sem ela não teria sido tão completa como sou.


Os homens me acham atraente. Mas não sou mais uma meninha, apesar de cometer desatinos de adolescente! Semesses desvarios ,seria vazia e sem sonhos. É a minha mola precursora, que me dá prerrogativa nos meus momentos difíceis. Não sou perfeita, nem fisicamente. As marcas que carrego, são registros das alegrias, das dores, dos medos, das angústias, de tudo que vivi. Não está registrada nenhuma amargura, nenhuma infelicidade! Passei tudo a limpo!


Hoje quero, sem nenhum medo, mesmo correndo o risco de ser “piegas”, um amor maior! Alguém que me ame, que me acolha em seus braços, quando alguma tristeza me invadir, e que faça o mesmo quando eu estiver feliz.


Quero acolher no meu regaço suas lágrimas e seus sorrisos. Quero me perder na paixão, na lascividade do desejo. E em poesias exaltar meu querer. Dizer que amo, mas com, intensidade, e ouvir o mesmo.


Quero cumplicidade. Não quero amar sozinha. Quero estar em par! Quero do amor o inócuo, o insano, o insaciável, o inesgotável, o justificável, o que arrebata e se apodera sem licença! Não quero ter as marcas da minha amiga! Quero marcas de vivência, de plenitude. Estar junto de alguém na noite, e não ter pressa de ir embora. Quero ter pressa de ficar.