sábado, 12 de julho de 2008


Dançando no destino

04h13min
Uma madrugada como outras tantas. Aparentemente.
Um número errado discado no meu celular alterou a rotina.
Uma voz sonolenta se fez ouvir.
Palavras quase inconvenientes, minhas, levando-me ao constrangimento total.
Fez-se necessária uma mensagem de desculpas e esclarecimentos:


“Peço desculpas pela brincadeira, não foi intencional, errei um número ao discar. Desculpa, estou morta de vergonha!”
04h54min cinco de julho madrugada de um sábado


A tentativa de reparo foi feita, dignidade restabelecida. Afinal isso acontece às vezes. Nada de tão grave. Próximo passo, retornar ao sono e esquecer. Esse era meu objetivo imediato. Dormir como um anjinho e acordar lépida e faceira.
Pela manhã, o sinal de mensagem do celular me acordou. A mensagem dançou diante dos meus olhos, um pouco, inesperada:


“Imagina! Se eu não estivesse morto de sono teríamos conversado mais, mas no estado em que eu estava só me dei por mim agora. Bj”.
07h04min cinco de julho manhã de sábado



O interesse despertou como um raio, rápido. As palavras quase pessoais, precisas, mas informais. O beijo no final, interessante, carinhoso. Dentro de mim, acendeu-se a curiosidade, o desejo de receber mais palavras. Um desejo confesso, intencional, dirigido, específico. O jeito de prolongar o contato seria então responder a mensagem. E assim fiz:


“Ta ok. Espero não ter te causado mais nenhum transtorno, além de ter atrapalhado teu sono. Mas ainda estou constrangida, he inevitável. Bjos tb”.
07: 20 5 de julho manhã de sábado


Palavras de aparência inocentes, mas induzindo uma possível e esperada resposta. Quietinha, esperei com uma pequena pitada de ansiedade, o retorno. E ele veio, como uma carícia leve, despretensiosa, mas insinuante. Meu interior incendiou-se, frenético, ficou pulsante, ondulado:



“Não fique constrangida, só perdi o sono e agora estou curioso pra saber quem é vc. Na hora nem raciocinei direito, mas estou curioso. Bjs”.
10h55min cinco de julho, manhã de sábado.


Primeiro detalhe: foram beijos, mais de um, com uma pontinha de carinho. As palavras escritas com precisão me agradaram, com um conteúdo pessoal, com um desejo, nas entrelinhas escondido. A sedução estava lançada! Pra continuar o jogo sedutor a resposta minha foi enviada, rápida, ansiosa:

“Eu sou a... E não tenho o hábito de dizer coisas inconvenientes na madrugada. E vc? Tua voz he muito agradável! Ah, sou muita atrapalhada!”
11h11min cinco de julho manhã de sábado


Era preciso manter o interesse, desencadear a continuidade do jogo, da brincadeira. Estava sedutor, delicioso.

“Prazer conhece-la. Meu nome é... Não lembro o que disseste na madrugada, mas gostei do teu tom de voz e estou gostando de estar te conhecendo. É de fato um prazer. Beijos”.
11h26min cinco de julho manhã de sábado


Bingo!
A dança da sedução começava sorrateira, encantadora. Era só responder e continuar o prazer:

Prazer tb! Ainda bem que vc não lembra! Tenho mais sorte que juízo. Tb estou gostando de te conhecer, apesar de ser desse jeito tão peculiar. Bjos”.
11h30min cinco de julho manhã de sábado “


Então veio a resposta atraente, cativante com entremeios de prazeres contidos:

“São tantas as maneiras de pessoas se conhecerem. A maneira como estamos nos conhecendo é especial. Ninguém manda msg depois de ter ligado errado pra outra pessoa. Prova que vc é especial, em breve te ligarei, posso? Bjos”.
11h45min cinco de julho manhã de um sábado encantador, prazeroso, cheio de promessas envolventes e segredos sedutores.

Logo após ele ligou, conversamos, rimos e combinamos não encerrar o conhecimento. Até esse momento, nos comunicamos por mensagens de celular. As mensagens dele surgem inesperadamente. Já estão carregadas de conquista, palavras íntimas, carinhosas, com um desejo implícito e às vezes explícito, ousado. Deixa-me feliz, acariciada com palavras, com beijos demorados, mãos que parecem deslizar pelo meu corpo numa promessa de muita sedução. Espero ansiosa, suas mensagens e aos poucos estamos nos conhecendo. Não vi sua foto, nem ele a minha, mas isso não parece essencial. As palavras preenchem o que o visual deixa em branco. Estamos dançando docemente, apaixonadamente, no enlevo das palavras, na magia do inusitado, na cumplicidade do acaso.