Quase que diariamente, meus passos me guiam ao mesmo lugar. Entro devagar, o cheiro me deixa entorpecida, tonta. Aspiro com força, o cheiro entra nos meus pulmões, no meu interior, preenchendo cada vazio. Delicio-me, saboreio
com sofreguidão. Devagar me dirijo até os tubos de tintas, manuseio-os com carinho. Várias tonalidades de cores se misturam diante de meus olhos, numa profusão de emoções. Sinto-me como drogada, diante da entrada do paraíso. O caminho sem volta! Diante dos meus olhos, se formam imagens frenéticas, de rabiscos, traços multicoloridos, que fogem da tela, numa corrida louca, logo após retornam se envolvendo aos outros traços, formando figuras imaginárias, desconexas, traços que se abraçam e se soltam em seguida, cores fortes contornam, preenchem vazios, outras suaves, esmaecidas, tons pastéis, como que acalmando meu interior descontrolado. Então, aos poucos, retrocedo, largo os tubos, como se queimassem minhas mãos. Começo a suar frio, escondo minhas mãos, nas costas, e o medo retrógrado, me ataca sem piedade, me invadindo, me tomando como uma violação, uma invasão descontrolada. Não entendo o turbilhão de emoções que sinto. Não encontro nenhum sentido, para tanto receio. Chega a vir em forma de dor. Saio rápido da loja, como se mil demônios me perseguissem. Saio, mas não vou longe. Perto tem uma praça, sento no banco. O ar puro parece me acalmar, respiro fundo, me recompondo lentamente. Busco respostas. Nada encontro. Só dúvidas, anseios. Chego à beira de me desesperar. Parece que dentro de mim habita um monstro que me deixa sem forças. Só sei que tenho que expurgar ele , tenho que separar o anjo do demônio. Tenho de expor minha criatividade. Permitir que a arte que corre em minhas veias, viajem para minhas mãos, e assim os rabiscos, as figuras se transportem de dentro de mim para as telas. E vou então vencer essa guerra, sem inimigos. O único inimigo sou eu, na forma do medo que vem de dentro de mim e alcança os meus sentidos. Será uma dura batalha, mas que vai valer a pena quando vence-la.
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